1º BIMESTRE- Sociologia
1. Processo de construção do conhecimento humano e formação do pensamento sociológico.
A história e evolução da raça humana estão desde os primeiros tempos, ligada ao ato de conhecer, a essa incessante busca de explicação para os fenômenos produzidos e existentes tanto na natureza quanto no mundo social e individual, e a finalidade do ato de conhecer não é senão desvendar os segredos e mostrar a realidade do objeto a ser conhecido, realidade essa que, por meio de reconstruções e modificações inevitáveis do pensar, está sujeita a rupturas e mudanças, de tal modo que o conhecimento sobre determinado objeto que parecia verdadeiro e aceitável num determinado espaço-tempo, noutro momento pode parecer falsa percepção.
E na tentativa de explicar como se processa o conhecimento humano, surgem diferentes pontos de vista para fundamentar a compreensão desse fenômeno que se opera na relação entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido. A questão tem sido alvo de discussão nos meios filosóficos pelas correntes assim denominadas: racionalismo, empirismo e dialética, sobre as quais teceremos algumas considerações:
Racionalismo
O Racionalismo origina-se a partir do inatismo de PLATÃO, filósofo grego (427 a.C. – 347 a.C.), para quem o homem, ser dotado de razão, não conhece a realidade, conhece tão somente a idéia do que seja real, de modo que a realidade só pode ser conhecida por meio das idéias de nossa razão. Enfim, o ato de conhecer resulta de uma operação racional, estando a realidade no universo das idéias, de modo que o conhecimento é criação do ser pensante e nele se esgota, e nada existe fora do pensamento, sendo o conhecimento regido por princípios universais, necessários e imutáveis, válidos para todos os homens em todo tempo e lugar.
Embora o racionalismo não ignore a existência do objeto real a ser conhecido, parte do princípio de que esse objeto resulta de uma operação elaborada no universo das idéias. O sujeito, portanto, surge como único elemento valorizado na relação concebida pelo processo do conhecimento, sendo de quase nenhuma relevância o objeto real a ser conhecido.
A visão platônica (racional, idealista) do mundo traduz-se em um panorama afastado do plano concreto, desvinculado das ocorrências que se manifesta na ambiência social, tablado que ostenta inúmeras contradições nas estruturas que o compõem.
Empirismo
"O inatismo afirma que nascemos trazendo em nossa inteligência não só os princípios racionais, mas também algumas idéias verdadeiras, que, por isso, são idéias inatas. O empirismo, ao contrário, afirma que a razão, com seus princípios, seus procedimentos e suas idéias, é adquirida por nós através da experiência" (MARILENA CHAUI, Convite à Filosofia, p. 69, Editora Ática).
O empirismo, portanto, adota posição radicalmente oposta ao racionalismo. Enquanto essa corrente valoriza o sujeito na formação do conhecimento humano, o empirismo sustenta que o conhecimento nasce do próprio objeto, o qual se apresenta no mundo como realmente é cabendo ao sujeito somente exercer papel de mero espectador dessa realidade posta, e para conhecê-la basta o sujeito saber ver, sendo suficiente para atingir a verdade que se ache devidamente preparado para descrever o objeto tal como ele é, nada pondo, nada acrescentando a ele, atuando como observador neutro, objetivo e exato.
O empirismo traz como elemento decisivo em seu processo de compreensão do conhecimento a preocupação fundamental de que a verdade somente será alcançada por meio da experiência, de tal modo que é imprescindível ao ato de conhecer a demonstração experimental no mundo sensível de toda e qualquer proposição. A experiência pode ser traduzida como o contato que os sentidos daquele que observam trava com o objeto real.
O empirismo manifesta-se em sua forma mais radical no positivismo de AUGUSTE COMTE (1798 – 1857). O festejado positivista sustenta que a verdade só pode ser verificável empiricamente e por um método único e rígido.
Assim como o racionalismo, que na compreensão do conhecimento privilegia o sujeito, o empirismo também constitui obstáculo epistemológico à elaboração científica do direito, porque dá ênfase excessiva a um dos termos da relação cognitiva (no caso, o objeto), não considerando a lição dialética de que é no processo racional entre sujeito e objeto que o conhecimento se constrói. Assim, racionalismo e empirismo são correntes filosóficas que se caracterizam por fundamentos, postulados e atitudes metafísicas diante do processo cognitivo.
Dialética
A corrente dialética surgiu como tentativa de expurgar os exageros pregados pelo racionalismo e pelo empirismo, tendo como preocupação nuclear o diálogo das estruturas mentais e racionais, insurgindo-se contra o mito da objetividade e neutralidade da ciência.
Na Antigüidade, o fundador do pensamento dialético foi HERÁCLITO (540? – 480? a.c.), para quem "O sol é novo a cada dia; nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos". Enfim, tudo flui, tudo passa, tudo se move sem cessar, a vida e tudo o mais que existe, transformam-se num fluxo permanente.
O pensamento dialético prega a necessidade da convivência dos contrários, estabelecendo que a maneira de conhecer a realidade resulta do atrito e do confronto das diferenças constatadas. Predomina a relação da razão com a consciência, de maneira conflituosa como processo de conhecimento humano; ao mesmo tempo, uma afirmação incorpora uma série de negações. O conhecimento da realidade é a superação das contradições.
O pensamento dialético é por definição mutável; a verdade é a do momento, sempre retificável, provisória, pois somente assim o pensamento humano mostra-se capaz de evoluir, partindo-se, portanto, da idéia de que a realidade é sempre contraditória.
Suas principais características são: 1) o conflito; 2) suposição da relação do sujeito: envolvimento, "contaminação" do sujeito pelo objeto e do objeto pelo sujeito; o sujeito que conhece o objeto transforma-o; 3) conhecimento provisório: traz a idéia de mudança e transformação, encarando as relações estabelecidas na sociedade como fenômeno dinâmico, transformado pela realidade e transformador da própria realidade.
1.1. A Revolução Industrial e as transformações sociais
Entendemos por Revolução Industrial a transição de uma economia agrícola tradicional para uma economia caracterizada por processos de produção mecanizados, para fabricar bens em grande escala. Os historiadores aplicam este termo exclusivamente às mudanças ocorridas na Inglaterra a partir do final do século XVIII. Sua expansão aos outros países denomina-se industrialização ou desenvolvimento industrial.
O trabalho se transferiu da produção de bens primários e agrícolas para o de bens manufaturados e serviços, o que gerou a migração das áreas rurais para as áreas urbanas. As mudanças mais importantes afetaram a organização do processo produtivo, que passou a ser realizado nas grandes fábricas, aumentando a especialização do trabalho e, conseqüentemente, sua divisão social. O desenvolvimento e o aumento da produção dependiam da utilização intensiva do capital (circulação) e da aparição de novos instrumentos e ferramentas para o trabalho especializado.
A Revolução Industrial provocou, a princípio, a redução do poder aquisitivo dos trabalhadores e uma perda de qualidade em seu nível de vida. Porém, com o decorrer do tempo implicou em um aumento da renda per capita.
Londres foi o centro de uma rede comercial internacional que favoreceu o desenvolvimento da economia. A partir de meados do século XIX este desenvolvimento expandiu-se para outros países. Expressando seu sentido econômico, sociológico, antropológico e político, muito mais do que histórico propriamente dito.
A Revolução Industrial converteu a Europa, durante o século XIX, no centro de um comércio global. O aumento da produção industrial foi acompanhado de uma rápida expansão comercial. A evolução dos transportes terrestres, com a invenção da máquina a vapor e a construção de ferrovias, favoreceu as comunicações entre o litoral e o interior dos continentes.
Caracterizou-se por sucessivas inovações tecnológicas, que podem ser assim resumidas:
• Aparecimento de máquinas modernas, que substituíram o trabalho do homem;
• Utilização do vapor para acionar a máquina, como fonte de energia, em substituição à energia muscular, eólica e hidráulica;
• Obtenção de novas matérias-primas para produção, em particular os minerais que impulsionaram a metalurgia e a indústria química.
Encontrando na Grã-Bretanha circunstâncias favoráveis, estas inovações adequadamente aproveitadas, deram ao país as condições de implementar definitivamente o modo de produção capitalista. Baseado na produção industrial em massa, nas relações sociais estabelecidas em função do dinheiro e da propriedade privada.
Essas transformações econômicas e sociais – que libertaram o poder produtivo das sociedades humanas – pouco a pouco se expandiram para todo o continente europeu e para outros continentes, pondo fim ao Antigo Regime.
Texto de apoio:
SOBRE A SOCIOLOGIA PRÉ-CIENTÍFICA
A sociologia, como modo de explicação científica do comportamento social e das condições sociais de existência dos seres vivos, representa um produto recente do pensamento moderno. Alguns especialistas procuram traçar as suas origens a partir da filosofia clássica da Grécia, da China ou da Índia. Isso faz tanto sentido quanto liga-las às formas pré-filosóficas do pensamento. Na verdade toda cultura dispõe de técnicas de explicação do mundo, cujas aplicações são muito variadas. Entre as explicações que elas apresentam, estão as que dizem respeito ao próprio homem, às suas relações com a natureza, com os animais ou com outros seres humanos, às instituições sociais, ao sagrado e ao próprio destino humano. O mito, a religião e a filosofia constituem as principais formas pré-científicas de explicação das condições de existência social. Tais modalidades de representação da vida social nada têm em comum com a sociologia. Elas surpreendem, às vezes com espírito sistemático e com profundidade crítica, facetas complexas da vida social. Também desempenharam em seus contextos culturais, funções intelectuais similares às que cabem à sociologia na civilização industrial moderna, pois todas servem aos mesmos propósitos e às mesmas necessidades de explicação da posição do homem no cosmos.
Entretanto, nenhum desses pontos de contato oferece base à suposição de que essas formas pré-científicas da explicação da vida social tenham contribuído para a formação e o desenvolvimento da sociologia. Em particular, elas envolvem tipos de raciocínio fundamentalmente distintos e opostos ao raciocínio cientifico. Mesmo as filosofias greco-romanas e medievais, que deram relevo especial à reflexão sistemática sobre a natureza humana e a organização das sociedades, contrastam singularmente com a explicação sociológica. É que, como notou Durkheim, “elas tinham, com efeito, por objetivo não explicar as sociedades tais ou quais elas são ou tais ou quais elas foram, mas indagar o que as sociedades devem ser, como elas devem organizar-se, para serem tão perfeitas quanto possível”.
(Florestan Fernandes, Ensaios de sociologia geral e aplicada).
Formação e objeto das Ciências Sociais: o surgimento da Sociologia como Ciência e a divisão das Ciências Sociais.
ENTENDER A SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS
Pode-se dizer que as Ciências Sociais caracterizam-se pelo estudo sistemático do comportamento social do ser humano. Dessa forma, o objeto de estudo das Ciências Sociais é o ser humano e suas relações sociais.
Ao mesmo tempo, as Ciências Sociais têm por objetivo ampliar o conhecimento sobre o ser humano em suas interações sociais e estudar a ação social em suas diversas dimensões. Ao realizar esse objetivo, as Ciências Sociais contribuem para um melhor entendimento da sociedade em que vivemos fornecendo instrumentos que podem ajudar a transformá-la.
Principais conceitos:
- SOCIEDADE: coletividade organizada e estável de pessoas que ocupam um mesmo território, falam a mesma língua, compartilham a mesma cultura, são geridas por instituições políticas e sociais aceitas de forma consensual e desenvolve atividades produtivas e culturais voltadas para a manutenção da estrutura que sustenta o todo social. As sociedades apresentam-se geralmente divididas em grupos, classes ou camadas sociais, nem sempre harmônicas. Porém, verifica-se também a complementariedade entre esses eles, e é essa complementariedade que mantém de pé a sociedade como um todo, já que a sociedade não possui vida própria.
- Tipos de Sociedade: agrária, civil, industrial ou industrialização, de massa, da informação, pós-industrial, central ou sistema-mundo, entre outras.
- GRUPOS SOCIAIS – O conceito de grupo vem da matemática, que o define como a reunião de elementos que têm pelo menos um aspecto em comum, chamado de propriedade associativa.
Chamamos de grupo social a um conjunto de indivíduos que agem de maneira coordenada, auto-referida ou recíproca, isto é, na maior parte das vezes, dirigida aos outros. Além de agir de forma auto-referente, o homem sempre teve, e tem até os dias de hoje, a consciência de pertencer a um grupo, o que implica interdependência, integração e reciprocidade, elementos fundamentais da vida social. Podemos identificar no estudo dos grupos sociais os grupos primários, tais como a família e a escola, nos quais se observa forte envolvimento emocional, atitudes de cooperação e o compartilhamento de objetivos comuns. Os grupos secundários são mais formais e menos íntimos e correspondem àqueles grupos formados pelos participantes de grandes empresas ou instituições, como por exemplo, os clientes de um banco.
- SOCIALIAÇÃO - Este conceito se refere ao processo pelo qual o individuo assimila os valores, as normas e as expectativas sociais de um grupo ou de uma sociedade. Este processo, responsável pela transmissão da cultura, é contínuo e se inicia na família quando se realiza a chamada “socialização primária”. Depois é assumido pela escola, pelos grupos de referência e pelas diferentes formas de treinamento e ajuste que os indivíduos fazem parte e se submetem no decorrer de sua existência, e que caracterizam a socialização secundária.
DIVISÃO DAS CIENCIAS SOCIAIS
- O que entendemos por Ciências Sociais?
- O que estuda a:
- Sociologia: estuda as relações sociais e as formas de associação, considerando as interações que ocorrem na vida em sociedade. A sociologia envolve, portanto, o estudo dos grupos e dos fatos sociais, da divisão da sociedade em classes e camadas, da mobilidade social, dos processos de cooperação, competição e conflito na sociedade etc.
- Antropologia: estuda e pesquisa as diferenças culturais entre os vários agrupamentos humanos, assim como a origem e a evolução das culturas. Alem de estudar a cultura dos povos pré-letrados, ocupa-se também da diversidade cultural existente nas sociedades contemporâneas, como os tipos de organização familiar, as religiões e as artes etc.
- Ciência Política: ocupa-se do estudo da organização e distribuição de poder nas sociedades, assim como da formação e do desenvolvimento das formas de governos, tanto as antigas como as contemporâneas, dos partidos políticos, mecanismos eleitorais etc.
- Economia: tem por objeto as atividades humanas ligadas à produção, circulação, distribuição e consumo de bens e serviços. Estudando, portanto, a dinâmica dos modelos produtivos desenvolvidos pelas sociedades, a distribuição da renda em um país, a política salarial etc.
(Não existe uma divisão nítida entre essas disciplinas. Embora cada uma das Ciências Sociais esteja voltada preferencialmente para um aspecto da realidade social, elas são complementares entre si e atuam freqüentemente juntas para explicar os complexos fenômenos da vida em sociedade.)
A Sociologia como Ciência
- Para que serve uma ciência que estuda o desenvolvimento e a dinâmica das sociedades e suas transformações?
Pode-se aproveitar para trabalhar neste bimestre a questão do surgimento do Dia 8 de Março – Dia Internacional da Mulher, e a questão sexista em nossa sociedade, uma vez que temos o fato das mulheres queimadas em uma tecelagem no período da Revolução Industrial nos EUA. Sendo considerado um dia de luta pela emancipação e igualdade de direitos das mulheres. Pode-se fazer uma abordagem mais complexa do assunto no Brasil e no mundo.
Texto de apoio:
DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO
Chamamos de divisão sexual do trabalho a separação dos trabalhos considerados como “serviço de mulher” daqueles que são considerados “serviço de homem”.
Por exemplo, ainda hoje em nossa sociedade, todas as atividades não remuneradas, que fazem parte do cuidado com a casa e com as pessoas da família, ainda são vistas como tarefas para as mulheres. Já o trabalho pago, geralmente realizado fora de casa, ainda e visto como sendo de maior responsabilidade dos homens. Essa visão ainda é muito forte nos dias de hoje, apesar do crescimento do numero de mulheres que saíram de casa pra trabalhar, seja para aumentar a renda da família, ou por serem chefes de família, arcando sozinha com as despesas da casa. Alem dessa divisão, algumas profissões também são classificadas como femininas ou masculinas.
Geralmente, as profissões consideradas femininas são menos valorizadas e recebem um salário menor, porque o salário da mulher é visto como um “complemento” dos ganhos da família.
Também o trabalho doméstico não remunerado – lavar, passar, cozinhar ou cuidar de pessoas da família, entre outros – é desvalorizado e não costuma ser visto como um trabalho. Quem nunca ouviu alguém dizer: “Ela não trabalha, só cuida da casa...”.
Já o trabalho do homem costuma ser mais valorizado e considerado mais cansativo. É comum, em casais que trabalham fora de casa, que a mulher faça o trabalho domestico – tendo dupla jornada de trabalho – enquanto o homem descansa.
Essa divisão do trabalho está baseada simplesmente no fato de ser homem ou mulher, não levando em conta as reais capacidades e habilidades das pessoas. Alem de ser preconceituosa, contribui para tornar ainda mais injusta a relação entre homens e mulheres. E, mais uma vez, a injustiça recai sobre a mulher.
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Muito bom o conteudo Professora adorei bjus
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