Violência Urbana- Ler para dissertar...


Violência urbana confina brasileiros em 'prisões' domiciliares
28/07/2008







A violência urbana mudou, infelizmente talvez para sempre, o comportamento do cidadão, a vida nas grandes cidades e as histórias do cotidiano. A violência assusta, constrange e confina moradores em suas casas. É a rotina do isolamento. Muitas vezes, a sensação é de que estamos nós todos numa prisão.

São milhões de reais gastos para garantir a segurança que o poder público não entrega. Já inventaram até a portaria-gaiola. Tem também a garagem-gaiola, em que o motorista fica preso antes de entrar em casa.

Com medo da violência, os brasileiros se isolam cada vez mais, mudando a arquitetura das cidades. O mercado da segurança cresce duas a três vezes mais do que a economia do país. Mesmo assim, a sensação de medo não vai embora.

A paisagem do Cristo Redentor suaviza qualquer cenário, mas não esconde o medo do carioca. Os moradores se cercam de segurança.

“A gente vive em pânico. Na minha casa, tem câmera e tem porteiro. Estamos pensando em botar grade. É um inferno”, conta uma senhora.

“A gente procura preencher uma lacuna que o poder público deixou, que é a segurança das pessoas”, acredita um senhor.

Isolados até o teto em São Paulo, com muros altos, grades e cerca elétrica, casas e condomínios são transformados em fortalezas.

“Em alguns lugares, você pode até, dependendo da época do ano, quando você passa e se as pinturas estão um pouco esmaecidas, você vê as camadas arqueológicas do medo com os diferentes níveis de muro. Começou com o muro baixinho e foi subindo, subindo e subindo”, compara a especialista em segurança Nancy Cardia.

Nem os mortos têm sossego. Muros foram erguidos e arame farpado para afastar os ladrões de túmulo. Pobres ou ricos, todos se protegem. Em um prédio de São Paulo, nunca houve um assalto, e os moradores querem que continue assim. Além de câmeras e portões de ferro, eles blindaram a portaria das janelas às paredes. As portas de vidro só funcionam por controle eletrônico. A entrega de encomendas é feita por uma abertura.

Muitos prédios em São Paulo implantaram a portaria-gaiola. A pessoa abre um portão, fica presa num espaço bem pequeno e só depois que fecha o primeiro portão é que, com a autorização do porteiro, é que ela consegue, finalmente, entrar no prédio.

“Parece que a gente está condenado sem ter feito nada. A gente está cumprindo uma pena de prisão. É muito ruim. Se é ruim para os adultos, é péssimo principalmente para as crianças, porque elas já nascem atrás de grades”, afirma Marco Antônio Castello Branco, presidente da Sociedade Amigos do Itaim.

“Hoje, com os muros, as pessoas não sabem quem mora ao lado. Isso é uma perda. Uma perda de qualidade de vida em sociedade”, acrescenta a especialista em segurança Nancy Cardia.

A forma como o medo modificou a arquitetura das cidades virou tema de exposição. Vivendo em gaiolas como bichos, paisagens que lembram prisões, trabalhando atrás de grades como em jaulas – essa é a visão do baiano André Gardenberg de como a violência faz reféns. Além de Rio e São Paulo, ele também fotografou Recife e Salvador.

“Eu acho que as pessoas acabam se acostumando e, de certa forma, elas acabam criando mecanismos para que essa convivência seja mais confortável, se é que isso é possível”, avalia o fotografo André Gardenberg.

a exposição sobre o medo nas grandes cidades deveria retratar outras capitais, mas os profissionais que retratavam a violência urbana tinham parado de fotografar. Eles foram assaltados enquanto trabalhavam. Tiveram o equipamento roubado e passaram a temer pela própria vida.

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